quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mitos sobre nutrição no futebol

Deve-se escolher adequadamente os alimentos que fornecerão mais energia para os músculos

GSSI

Mito número 1 ? Alimentos e bebidas que se consome não alteram o desempenho no futebolA verdade é que, se não se tomar cuidado com o que se ingere, corre-se menos e mais lentamente, tomam-se decisões erradas, toca-se menos na bola, marcam-se menos gols e perdem-se mais oportunidades durante a partida.

Mito número 2 ? Se algum nutriente é fundamental para o futebol, é a proteína e não o carboidratoCom raras exceções, pode-se obter proteína em quantidade suficiente na dieta normal das pessoas. Mas, na maioria dos times, os jogadores comem pouquíssimo carboidrato, o nutriente mais importante na dieta de jogadores de futebol bem sucedidos. Sprints e corridas intensas, rapidamente, esgotam o glicogênio armazenado (carboidrato) no músculo e no fígado. Para repor esse glicogênio, deve-se privilegiar alimentos ricos em carboidratos em sua dieta diária, principalmente, durante as 24h que antecedem uma partida e durante as primeiras horas de recuperação de jogos ou sessões de treinos intensos. Algumas dicas:? A dieta diária, durante a temporada, deve incluir de oito a 10 gramas de carboidratos por quilograma de peso corporal. Cereais, pães e massas são boas fontes de carboidratos.? Aproximadamente quatro horas antes do jogo, faça uma refeição que inclua alimentos ricos em carboidratos, facilmente digeríveis, como massas, por exemplo. Evite alimentos fritos e aqueles com molhos gordurosos, porque as gorduras são digeridas lentamente. Se o atleta tem tendência a ficar nervoso antes de uma partida, é interessante que se pense em uma refeição líquida, de fácil digestão como um milkshake nutritivo que contenha de 60 a 70% das calorias provenientes de carboidratos.? Aproximadamente duas horas antes de um jogo ou de uma sessão de treinamento, beba de 500 a 600 ml de uma bebida esportiva, contendo eletrólitos e de 5 a 7% de carboidratos. Isso irá fornecer algum carboidrato de última hora e uma reserva de segurança de líquidos para o corpo.Durante as interrupções para tratar de lesões e penalidades, e durante o intervalo, deve-se consumir, de maneira confortável, bebidas esportivas com carboidratos e eletrólitos. Assim que tiver oportunidade, após o jogo ou sessão intensa de treinos, é interessante ingerir alimentos e bebidas ricos em carboidratos para, rapidamente, começar a repor os estoques de glicogênio. Após o exercício, um pouco de proteína é bom, mas sem exageros. Deve-se ter como objetivo consumir o suficiente de carboidratos (de oito a 10 g/kg) nas 24h após uma partida.

Mito número 3 ? Beber líquidos durante treinos e jogos não é essencialSe o treino e/ou o jogo são vigorosos, perde-se muito suor, principalmente quando a temperatura está quente e úmida. Parte da água presente no suor provém do sangue e a última coisa que se quer é que haja redução do volume sangüíneo (volemia).O sangue transporta oxigênio e nutrientes para os músculos, remove ácido lático e outras substâncias e transfere calor dos músculos para a pele, onde o calor é liberado para o ar.Se não houver a reposição da maior parte dos líquidos perdidos no suor, o desempenho será prejudicado e pode-se ter cãibras musculares, exaustão pelo calor e até mesmo insolação.Cada jogador deve ter um reservatório individual de líquidos gelados e bem identificados, e esses devem ficar nas laterais, a cada 20 metros, prontamente disponíveis para um gole rápido durante as interrupções do jogo.

Mito número 4 ? A água é a melhor bebida para reposição de líquidosEstudos científicos provaram que a reposição das perdas pelo suor com uma bebida esportiva contendo carboidratos e eletrólitos é, realmente, vantajosa se comparada com a água. Além de fornecerem energia, carboidratos combinados com eletrólitos, elas estimulam a sede e repõem as perdas hídricas mais rapidamente que a água.

Mito número 5 ? Desde que se beba sempre que sentir sede, receberei líquidos suficientesA sede não é um bom indicador das necessidades de líquidos, portanto, deve-se forçar a beber o mais precoce e frequentemente possível, sempre que o jogo for interrompido.O objetivo deve ser nunca perder mais que 1,5% do peso corporal durante um treino ou jogo. Em outras palavras, se um atleta pesar 70 kg antes de um treino ou partida, ele não deve ter mais do que 1,05 kg a menos depois dos mesmos.Para determinar com mais precisão quanto se deve beber, deve-se pesar o indivíduo antes e depois do treino e medir o volume de líquidos que ele ingere, se ingerir algum. Se perder mais que 1,5% do seu peso terá que beber mais. Se, por outro lado, ganhar peso, deve beber menos. Para rapidamente repor líquidos e eletrólitos como o sódio e potássio depois de um jogo ou treino, beba aproximadamente 50% a mais daquilo que perdeu.O motivo disso é que a ingestão estimula a formação de urina, e os líquidos adicionais são necessários para compensar essa perda. As bebidas esportivas são melhores que a água para promover a reidratação rápida, porque estimulam a ingestão e fazem com que a produção de urina seja menor.

Mito número 6 ? Depois de uma partida fora de casa, pode-se comer o que quiser nos restaurantes Mesmo quando o time é levado para um restaurante com sistema de buffet ou para uma praça de alimentação onde há boas opções disponíveis, muitos jogadores não fazem boas escolhas.A ideia é se preparar para a partida seguinte. Deve-se escolher adequadamente os alimentos - muito carboidrato, pouca gordura ? que fornecerão mais energia para os músculos, o que significa melhor desempenho para o jogo seguinte.Se o jogador não tiver certeza sobre que alimentos são ricos em carboidratos e pobres em gordura, ele deve pedir ajuda. O ideal é um nutricionista da equipe, mas o médico, o preparador físico ou o técnico também podem ajudá-lo com bons conselhos.
Fonte: Gatorade Sports Science Institute - http://www.gssi.com.br/
Bioenergética: base da fisiologia do esforço
Breve revisão da literatura a respeito, com uma abordagem sobre os sistemas energéticos de produção de energia
Luis Felipe T. Polito, Victor Hugo Moreira Milesi
O estudo da fisiologia do corpo humano e preparação física esportiva é uma das áreas de conhecimento do movimento humano que mais cresceu nas últimas décadas. Muitas dúvidas importantes foram respondidas no assunto, e ainda assim existem muitas controvérsias e teorias que vêm sendo analisadas para uma melhor explicação aos variados processos desse universo em miniatura, o corpo humano. Este artigo tem como objetivo fazer breve revisão da literatura a respeito da fisiologia do esporte abordando os principais aspectos dos sistemas que são responsáveis pela prática de toda e qualquer modalidade esportiva, em toda e qualquer categoria - os sistemas energéticos de produção de energia.
Como se sabe, para o corpo humano realizar suas atividades ele utiliza ATP (adenosina trifosfato), que nada mais é que uma adenosina ligada a três grupos fosfatos. Quando a enzima ATPase liga-se à molécula de ATP, rompe-se desta um fosfato inorgânico (Pi), formando um ADP + Pi (adenosina difosfato + fosfato inorgânico). Essa reação fornece cerca de 7,6 kcal. É a partir daí que o ciclo ATP-CP se inicia. Um mol de fosfocreatina (CP) liga-se à enzima creatina quinase (CK), ocorrendo o rompimento na ligação dos elementos, fornecendo energia (CP => C + Pi + energia). Esta energia fornecida na quebra da fosfocreatina é utilizada para ligar o Pi com o ADP, "recriando" um ATP (ADP + energia + Pi => ATP). Tal sistema tem como função apenas manter as concentrações de ATP (diminuindo a concentração de CP) e não necessita de O2, por isso se diz anaeróbio. Tal mecanismo pode fornecer energia de 3 a 15 segundos em uma atividade física intensa. (WILMORE; COSTILL; 2001).
Em termos práticos, pode-se dizer que o sistema anaeróbio alático (sem produção de ácido lático) ocorre nos jogadores de futebol quando os mesmos realizam sprint máximo ou nos atletas de 100 m rasos do atletismo, atletas de 50 m livres da natação e assim por diante. Esse é o sistema mais simples que o organismo humano possui para síntese de energia e ressíntese de ATP. Quando a creatina fosfato depleta ou quando o tempo de duração da atividade for mais prolongado, o músculo passa por outros sistemas de produção de energia mais complexos: a glicólise e a fosforilação oxidativa.
No sistema glicolítico, ocorre a glicólise ("quebra" de glicose ou glicogênio) no hialoplasma. O carboidrato passa por 12 reações envolvendo enzimas glicolíticas até ser degradado em duas moléculas de ácido pirúvico, tendo como saldo a produção de três ATPs (quando utilizado glicogênio) ou dois ATPs (quando utilizada a glicose). Após a formação dos dois ácidos pirúvicos, podem ocorrer dois processos: primeiramente, o ácido cai no sistema oxidativo (que veremos a seguir) se puder ser reagido com o oxigênio e houver tempo para isso. O outro processo é a combinação das duas moléculas de ácido pirúvico com os íons hidrogênio para formação do ácido lático, sendo este o primeiro processo de tamponamento do hidrogênio.
Quanto maior a quantidade de hidrogênio, menor o pH e mais ácido se torna o meio, fazendo com que algumas enzimas percam suas atividades. Assim, o hidrogênio inibe a glicólise e suas reações, não havendo, portanto, produção de ATP. Além disso, a acidez reduz a capacidade das fibras ligarem-se ao cálcio, impedindo a contração muscular. O segundo processo de tamponamento do hidrogênio é a combinação do bicarbonato de sódio com o ácido lático, formando lactato de sódio e ácido carbônico, que logo se dissocia em água e dióxido de carbono.
Contudo, o excesso de ácido láctico não é o responsável pela fadiga muscular e nem pela cãibra, como o senso popular acredita. A cãibra muscular até hoje é uma dúvida das ciências do esporte, pois não se sabe com certeza qual mecanismo é o mais determinante para que ela ocorra. Porém, a ciência já sabe que a cãibra pode ser causada por quatro fatores diferentes: acúmulo de subprodutos metabólicos (hidrogênio); falha nos mecanismos de contração muscular (sódio ou potássio, principalmente sódio, que aparece em maior quantidade no suor); falta de substratos energéticos, que nada mais é do que a falta de carboidrato ou gordura para a geração de energia (principalmente a falta de carboidrato), sendo este um dos motivos pelo quais os jogadores de futebol não poderem atuar todo dia, fornecendo ao organismo o tempo necessário para a recomposição dos estoques de glicogênio; e o último possível motivo da cãibra é a fadiga do sistema nervoso central, onde o próprio sistema nervoso apresenta maior dificuldade em manter a eficiência dos movimentos ou dos gestos desportivos (POLITO, 2008).
Segue abaixo figura ilustrativa das reações químicas envolvidas na glicólise anaeróbia ou sistema glicolítico.O sistema glicolítico é muito utilizado em modalidade de velocidade, como os 400 m rasos do atletismo, pois é um sistema de rápidas reações. Porém, ao mesmo tempo é um sistema limitado, já que provoca acidose metabólica, gerando a fadiga muscular. O sistema glicolítico possui tempo de ação de aproximadamente um minuto, enquanto isso, o sistema energético mais prolongado que existe até hoje descoberto pelas Ciências do Desporto é o sistema oxidativo.
O sistema oxidativo é composto de várias reações químicas, não sendo o objetivo do presente artigo dar conta de todas elas, mas sim fazer um exposição geral acerca do funcionamento desse sistema. O produto final da glicólise (ácido pirúvico) ingressa na mitocôndria. Cada molécula desse ácido possui três átomos de carbono. O ácido pirúvico perde uma molécula de CO2 (eliminado para o ambiente pelos pulmões), convertendo-se em ácido acético, com dois átomos de carbono. Este se une a uma substância chamada Coenzima A, formando o acetil-CoA. Antes de prosseguir, é importante ressaltar que no ciclo de Krebs, o acetil-CoA (que advém do CHO ou da gordura) precisa formar citrato e, para isso, junta-se ao oxaloacetato (OAA, formado por glicose).
Por isso, chega-se à conclusão de que para a utilização da gordura para síntese de energia, o organismo necessita de qualquer forma de glicose, "desmitificando" a teoria de que uma pessoa pode emagrecer em jejum, por exemplo, pois no estado de restrição alimentar esta pessoa estaria com sua taxa de açúcar depletada no organismo. (COSTA; MARQUEZZI, 2008).
Após esse ciclo, o NADH2 e o FADH2, antes surgidos, entrarão em uma cadeia de transportes de elétrons (a cadeia respiratória), onde uma série de reações promove a liberação de energia dos elétrons. Finalmente essa energia é canalizada para a síntese de ATP (ADP + energia + Pi => ATP) no processo de fosforilação oxidativa. Agora, os prótons e elétrons transportados na cadeia respiratória unem-se ao O2, formando água e evitando assim qualquer acidificação no interior das células. Nesse momento, são formados 38 ou 39 ATP caso seja utilizada a glicose ou o glicogênio, respectivamente, sendo por este motivo que recebe o nome de oxidação de carboidrato.
Contudo, sabe-se que, como o carboidrato, a gordura também contribui para as necessidades energéticas dos músculos. As reservas do glicogênio muscular e hepático são capazes de fornecer 1.200 a 2.000 kcal de energia, mas as gorduras armazenadas no interior das fibras musculares podem fornecer pelo menos 70.000 a 75.000 kcal, mesmo num adulto magro.
Os ácidos graxos provenientes dos triglicerídeos passam pela chamada Beta-Oxidação (ß-oxidação), em que há um catabolismo enzimático feito pelas mitocôndrias, gerando ácido acético. Cada um deste transforma-se em acetil-CoA, passando a partir de então pelo mesmo ciclo antes explicado (ciclo de Krebs).
Não se deve descartar a ideia de que certa quantidade de gordura fornece muito mais energia que uma mesma quantidade de carboidrato, devido à maior formação de acetil-CoA.
A proteína muitas vezes também é utilizada para síntese de energia. Alguns aminoácidos podem ser convertidos em glicose através da gliconeogênese, e a partir disso entrarem no processo oxidativo como acetil-CoA. O uso da proteína muitas vezes pode degradar o músculo de um atleta mal alimentado, pois na falta de carboidrato ou gordura para oxidar, a proteína formadora da massa magra (músculos) também é oxidada, deixando o atleta mais fraco fisicamente.Figura 2: O metabolismo de gordura, de carboidrato e de proteína é reduzido a acetil-CoA e entra no ciclo de Krebs.
Pode-se dizer, com segurança, que o presente artigo alcançou seus objetivos, expondo os principais aspectos da base da Fisiologia do Exercicio: a Bioenergética.
Bibliografia
COSTA, A. S. & MARQUEZI, M. L. Implicações do jejum e restrição de carboidratos sobre a oxidação de substratos. Revista Mackenzie de cãocação Física e Esporte, v. 7, n. 1, 2008. P.119-129.
POLITO, L. F. T. A verdade sobre o potássio, a cãibra e a banana: será o potássio o herói e a banana a vilã? Universidade do Futebol. http://cidadedofutebol.com.br/Universidade/Web/Site/index_area_saude.asp?arq=artigo.asp&id_cont=1615. Acesso em 26/08/2008 às 13:46.
WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2ª ed. São Paulo, Manole, 2001. 709 p.